Entrevistas

Hendrik Schönfelder, CEO da Evonik para a região América Central e do Sul, comenta sobre o papel da empresa no mercado de químicos

Em entrevista exclusiva com o GlobalKem, Hendrik Schönfelder, CEO da Evonik para a região América Central e do Sul, comenta sobre os desafios enfrentados pela empresa em decorrência da guerra Rússia e Ucrânia e as expectativas com relação a 2023.

A Evonik é uma grande empresa internacional fundamental do setor químico, que está se expandindo cada vez mais. Há quanto tempo a empresa atua na América Central e do Sul e quais seus principais mercados? 

A América Central e do Sul é uma região estratégica para os negócios da Evonik e tem recebido investimentos significativos para expansão do nosso parque industrial e escritórios de vendas. No Brasil, estamos presentes desde 1953, completando 70 anos de atuação em outubro deste ano. Contamos com um escritório central em São Paulo, uma fábrica no Espírito Santo e no Paraná, e duas plantas produtivas em Americana (SP), onde também está instalado nosso Centro de Tecnologia Aplicada, que reúne oito laboratórios de aplicação e duas plantas piloto. Na Argentina, possuímos uma planta de metilato de sódio e operações comerciais em vários países, incluindo Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, Costa Rica e Peru. Com essa estrutura, nossas especialidades químicas atendem importantes segmentos de mercado, como automotivo, agroquímico, biodiesel, borracha, construção civil, cosmético, farmacêutico, household, nutrição animal, papel e celulose, plástico, químico e tintas, entre outros.

Nos últimos anos, a transição energética está entre os principais debates das grandes economias. Como a Evonik está se preparando para atender esse mercado? Atualmente possuiu algum projeto de fontes de energia renovável na América Central e do Sul?

A Evonik está em transição em escala global para reduzir sua pegada de carbono com metas ambiciosas. Queremos reduzir as emissões de CO2 de nossas próprias operações (ou seja, Escopo 1 e 2) em 25% até 2030 e atingir zero emissões até 2050.

Isso obviamente inclui medidas em nossos ativos de produção atuais na Argentina e no Brasil, como a aquisição de eletricidade e hidrogênio de fontes renováveis, eletrificação de sistemas de aquecimento, integração de calor e o uso de combustíveis e matérias-primas de origem biológica.

Em algumas áreas, já podemos avaliar propostas concretas quanto à viabilidade técnica e comercial. Em outras, no entanto, dependemos de infraestrutura pública ou fornecedores privados que ainda não existem ou estão em fase de formação. A alta fração de energia hidrelétrica na matriz energética da geração de eletricidade no Brasil torna nossa produção lá muito favorável já hoje. Em combinação com a disponibilidade de matérias-primas de origem biológica, vemos uma boa chance de que nossas operações na América Central e do Sul possam ser pioneiras dentro de todo o grupo Evonik em relação à neutralidade climática.

Desde 2020, o mercado passa por muitas incertezas e oscilações devido às consequências da pandemia e, em 2022, com os impactos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Como foi o desempenho financeiro da Evonik neste período? Quais medidas foram adotadas para garantir as atividades e atender os clientes?  Os anos de 2020 e 2021 foram extraordinários em termos de resultado para o Grupo Evonik. Foram dois anos consecutivos de recordes de vendas e resultados. A desaceleração e os impactos causados pela guerra na Ucrânia passaram a ser sentidos somente no último trimestre de 2022 e, desde então, sentimos uma forte desaceleração no consumo e, por consequência, nas nossas vendas. Isto, aliado ao maior custo das matérias-primas na Europa, onde está a maior parte das nossas plantas produtivas, diminuiu significativamente os resultados do grupo. Já no início do segundo semestre de 2022, com as previsões mais pessimistas do mercado e antevendo a queda que teríamos nos nossos resultados, foram implementadas várias medidas de redução de custos, bem como medidas para otimizar nosso Net Working Capital e a geração de caixa.

Como produtora e distribuidora de muitos produtos químicos para diversos segmentos, a Evonik necessita de uma grande infraestrutura para garantir o escoamento de seus produtos. A logística e distribuição desses produtos sofreu algum impacto ou alteração com a guerra Rússia e Ucrânia?

Sim, com a guerra entre Rússia e Ucrânia, tivemos alguns impactos na cadeia de suprimentos dos produtos que têm origem na Europa. Mas o maior impacto foi nos custos dos produtos por causa do aumento do custo de gás natural proveniente da Rússia e demais matérias-primas que utilizam esta fonte de energia para a produção de seus químicos. Alguns produtos tiveram a sua disponibilidade reduzida, assim como um maior tempo de resposta para recebermos as mercadorias. Esta situação trouxe impactos principalmente no segundo semestre de 2022, com o recebimento de muitos pedidos acumuladamente. Direcionamos, então, os esforços para nos adaptarmos, ajustarmos nossos estoques e respondermos às demandas dos clientes no tempo necessário para não prejudicar suas operações.

A Evonik tem planos de investimentos futuros e expansão de atividades e unidades produtoras de químicos na América Central e do Sul?

Atualmente, operamos cinco plantas produtivas na região, sendo que uma delas está passando por uma expansão. Para uma segunda unidade, já temos planos semelhantes arquivados no repositório de investimentos futuros e estamos esperançosos em expandir nossa presença com uma sexta unidade de produção completamente nova. A justificativa para todas essas expansões é baseada em uma melhor cobertura dos mercados regionais. Mas e se pudéssemos aproveitar o potencial da região para nos tornarmos o lar das primeiras instalações de produção totalmente neutras em carbono? Nesse caso, os mercados de exportação para produtos químicos sustentáveis poderiam fornecer uma nova base comercial para a produção de produtos químicos especiais na América do Sul e Central.Só podemos convidar os governos dos países que abrigam nossas operações a acelerar o desenvolvimento da infraestrutura necessária para que possamos aproveitar as oportunidades.

Em 2023, há uma expectativa do mercado que a economia mundial entre em recessão. Como o mercado de produtos químicos deve reagir a esse cenário? De que maneira a Evonik está se preparando para a recessão?

Normalmente, a indústria química, que abrange a parte superior de muitas cadeias de valor, sente ciclos econômicos de forma mais intensa do que outros players. Neste momento, os mercados químicos estão passando por uma forte desaceleração. A demanda de muitos mercados finais está baixa após o fim da pandemia, a escassez de oferta foi superada e os preços da energia estão mais altos, bem como a inflação geral, fatores que estão gerando muita pressão de custos. Obviamente, a indústria está reagindo com uma onda de iniciativas de corte de custos para proteger os retornos. E a Evonik não é exceção. No entanto, todos estamos cientes de que a atual transição para a neutralidade climática e circularidade requer que continuemos investindo intensivamente em P&D e novas tecnologias. E os clientes reconhecem nosso esforço com uma demanda crescente na área de soluções sustentáveis. Portanto, nossa reação é governada por uma abordagem equilibrada centrada em melhorias de eficiência em determinadas áreas e esforços intensificados na área de sustentabilidade.

Informações da Empresa: A Evonik é uma das líderes mundiais em especialidades químicas. A empresa atua em mais de 100 países no mundo inteiro. Em 2022, registrou vendas de 18,5 bilhões de euros e um lucro operacional (EBITDA ajustado) de 2,49 bilhões de euros. A Evonik vai muito além da química para criar soluções inovadoras, lucrativas e sustentáveis para seus clientes. Cerca de 34.000 colaboradores trabalham juntos em prol de um objetivo comum:  melhorar a vida das pessoas hoje e no futuro.

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