Guiné–China: a aliança estratégica da bauxita e seus riscos

A relação entre Guiné e China no setor de bauxita é profundamente estratégica: a Guiné possui cerca de 7,4 bilhões de toneladas de reservas de alta qualidade, e suas exportações aumentaram nos últimos anos, com a China importando aproximadamente 158,8 milhões de toneladas em 2024. Com isso, o país asiático tornou-se o principal destino da bauxita guineense, criando uma dependência mútua entre as nações.
O modelo chinês de “recursos por infraestrutura” — exemplificado por um pacote de financiamento bilionário, que incluiu um empréstimo de cerca de US$ 20 bilhões — uniu bancos estatais (EximBank e CDB) e empresas estatais (SOEs) em projetos que vão desde ferrovias e portos até refinarias e usinas, garantindo o acesso de longo prazo à bauxita.
Empresas chinesas, como a CHALCO, joint ventures e players, como a SPIC, investiram em capacidade de refino e em energia local (refinarias e usinas com centenas de MW de potência), assegurando não só fluxos estáveis de bauxita, como também respondendo à exigência guineense de agregar valor localmente e reduzir a vulnerabilidade a restrições de exportação de terceiros.
Quando Conakry revogou e renegociou dezenas de licenças em uma ofensiva por “minerar aqui, refinar aqui”, muitos projetos chineses permaneceram operacionais, pois já estavam integrados a programas de desenvolvimento local, geração de empregos e infraestrutura, criando um grau de proteção política e econômica que explica por que a China saiu relativamente ilesa da disputa.
Apesar dessa posição, a relação carrega riscos, uma vez que a Guiné busca uma maior captura de valor e receita (preço de referência, cláusulas locais), enquanto a China enfrenta a exposição à instabilidade política, às pressões ambientais e à necessidade de equilibrar custos crescentes com a segurança do fornecimento. Tal cenário torna provável a renovação de acordos sob termos mais onerosos e a vigilância regulatória nos próximos anos.
Autoral Globalkem | 11 de setembro de 2025