O REIQ precisa ser visto como uma condição competitiva necessária ao setor

O Regime Especial da Indústria Química (REIQ) foi criado em 2013 com o objetivo de equilibrar a competitividade do setor químico brasileiro. Ele consiste na isenção de 3,65% no PIS/COFINS sobre a compra de matérias-primas básicas petroquímicas de primeira e segunda geração.
A medida é uma das principais forças motoras para a competitividade das empresas instaladas no país. Isso acontece porque o imposto sobre o faturamento no Brasil é de 40% a 45%, enquanto os concorrentes nos Estados Unidos e na Europa pagam apenas 20% a 25%.
A desvantagem em relação ao mercado internacional fica ainda mais exacerbada e acumula contradições quando entra na balança o Custo Brasil, calculado pelo governo em 1.3 trilhão.
O governo federal reconheceu o setor químico como essencial pelo Decreto nº 10.329, de 28 de abril de 2020. A ação é justificada, uma vez que a indústria é responsável pela produção e fornecimento de insumos para serviços de saúde, o combate à Covid-19, além de itens básicos do cotidiano do brasileiro.
Dentre os produtos fornecidos, é possível citar os utilizados para tratamento de água, sanitizantes, gases medicinais, descartáveis hospitalares, detergentes/desinfetantes, medicamentos, produtos de higiene pessoal e tantos outros. Itens fundamentais, sendo que alguns compõem a base do cotidiano do brasileiro e outros, a base do combate ao coronavírus.
Um exemplo que ilustra o status de essencial do setor é que o aumento da taxação vai ter impacto direto no valor das seringas de vacinação. Até mesmo itens do dia a dia sofrerão reajuste, desde escovas de dentes, garrafas e tampas de bebidas até o chinelo de dedo.
Além disso, a indústria química também atende parte importante do segmento de defensivos agrícolas, via insumos químicos para sua fabricação, prejudicando também sua competitividade.
Sendo assim, quando somado à inflação já observada sobre os itens da cesta básica, a mesa do brasileiro corre o risco de ficar ainda mais vazia.
Sem considerar a posição estratégica que a indústria química ocupa e que a torna essencial, a Medida Provisória nº 1.034 de 1º de março de 2021, marcou a suspensão do REIQ.
A MP nº 1.034 institui crédito presumido da Contribuição para os Programas de Integração Social (PIS) e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasesp) e da Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) para produtos destinados ao uso em hospitais, clínicas, consultórios médicos e campanhas de vacinação.
Trata-se de uma compensação equivocada, pois a indústria química não atende apenas ao segmento farmacêutico, médico hospitalar e sanitizantes; o impacto pode, inclusive, afetar a competitividade do agronegócio brasileiro, uma vez que parte importante do segmento de defensivos agrícolas sente os efeitos, via insumos químicos para sua fabricação, da redução de impostos que o REIQ representa.
A atitude gerou instabilidade jurídica e contratos podem ser quebrados, uma vez que os termos não serão cumpridos. Esse cenário dá margem a inúmeros processos judiciais, causando prejuízo duplo: pela perda do contrato e pelos gastos e compensações necessários.
A instabilidade econômica é outro ponto importante e talvez um dos mais doloridos. Atualmente, a indústria química já opera com apenas 72% da capacidade instalada no país, enquanto a participação dos produtos importados no mercado interno já é de 46%.
Com o fim do REIQ, a indústria química nacional terá uma retração de demanda na ordem de R$ 2,2 bilhões. Este valor é referente ao volume de compras que podem diminuir no mercado interno por falta de competitividade do produto nacional.
A retração na demanda pode levar a recuos na produção nacional de até R$ 7,5 bilhões por ano e R$ 2,5 bilhões por ano de valor adicionado às matérias-primas que tinham o REIQ como fator competitivo.
As estimativas são que a queda na arrecadação para o Governo Federal com a redução do faturamento do setor chegue a R$ 500 milhões por ano, isso inclui impostos pagos pelos trabalhadores que podem perder seus empregos.
Níveis recordes de desemprego podem ficar ainda maiores uma vez que o
impacto no setor pode acarretar até 80 mil postos de trabalho, com sérias consequências à economia.
Outro ponto negativo é o fato de que a indústria química brasileira
pode distanciar-se tanto de um cenário competitivo que pode não conseguir se recuperar, já que tal medida gera recuo do setor no Brasil,
uma vez que investimentos em outros países serão mais vantajosos.
A extinção do REIQ é caminhar de forma contrária à sinalização dada pelo Congresso Nacional que aprovou a lei do gás, demostrando a importância de garantir marcos legais equivalentes aos existentes em outras nações como forma de estabelecer padrões de competitividade semelhantes e, consequentemente atrair investimentos.
Não por acaso, o Manifesto pela manutenção do REIQ foi assinado por 61 entidades, além de 41 sindicatos que representam os trabalhadores do setor, Federações Industriais, sindicatos patronais e entidades que representam os pólos químicos, além da Confederação Nacional das Indústria, CNI.
O REIQ precisa ser visto como uma condição competitiva necessária para que a indústria química continue sendo fonte de riqueza e de empregos ao País.