Mercado

Estoques de aço devem normalizar em 2021

Apesar do mercado como um todo estar se recuperando dos impactos da pandemia do coronavírus, alguns reflexos ainda podem ser sentidos em diversos segmentos da economia do Brasil, o que inclui a cadeia do aço. Como a demanda por esse insumo caiu drasticamente no início da propagação da Covid-19, entre março e abril, mas subiu rapidamente a partir de junho e julho deste ano, ainda não foi possível restabelecer os estoques dos distribuidores desse material, algo que deve ser resolvido, segundo estimativas dos agentes do setor, até março de 2021.

O presidente-executivo do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, comenta que a oferta atual do material no País é, no mínimo, suficiente para cobrir o consumo real, mas não há volume suficiente para refazer os estoques. O dirigente detalha que no começo da pandemia houve uma queda muito grande do mercado, o que assustou os distribuidores e a indústria de aço quanto a problemas de liquidez, fazendo com que as empresas diminuírem os estoques para gerarem caixa. “Essa recomposição de estoques é que está demorando e criando uma sensação de um consumo aparente maior do que o real”, frisa Loureiro.

Conforme dados do Inda, em novembro as empresas associadas à entidade registraram o menor estoque de aço dos últimos dez anos, com cerca de 630 mil toneladas (no mesmo mês em 2019 o número era de aproximadamente 762 mil toneladas). Loureiro comenta que, dentro desse cenário, a importação está começando a aumentar, porém a dificuldade dessa prática é a logística mais demorada, além dos custos também estarem elevados no exterior.

O presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, confirma que problemas de abastecimento em alguns segmentos de consumo referem-se à reposição de estoques e estão localizados no setor da distribuição e não nas usinas produtoras. De acordo com o dirigente, hoje, a utilização da capacidade instalada da indústria brasileira do aço é de 68,9%, tendo ultrapassado o patamar verificado em janeiro, não havendo por parte das associadas ao Instituto problemas no abastecimento do mercado interno. A título de comparação, em abril o setor operou com somente 45% de sua capacidade instalada para ajustar sua oferta à demanda existente na ocasião. De janeiro a novembro deste ano, a produção de aço bruto caiu 6,7% em relação ao mesmo período de 2019

Porém, os últimos números apresentados pela entidade são mais otimistas. Em novembro de 2020, a produção brasileira de aço bruto foi de 3 milhões de toneladas, representando um aumento de 9% em relação ao mês de janeiro. Já as vendas internas alcançaram 1,8 milhão de toneladas, crescendo 19% em relação às de janeiro. O consumo aparente de produtos siderúrgicos foi de 2 milhões de toneladas, 15% superior ao apurado no mês de janeiro.


“A vigorosa recuperação do mercado interno permitiu que as estimativas do Instituto para este ano sejam de relativa estabilidade em relação a 2019, com as vendas internas apresentando um crescimento de 0,5% e chegando a 18,9 milhões de toneladas, e o consumo aparente uma queda de apenas 1%, devendo atingir 20,8 milhões de toneladas”, diz Lopes. Quanto à produção, ele adianta que a indústria brasileira do aço deve decrescer 5,6%, ficando em 30,7 milhões de toneladas este ano. A expectativa do setor é de que em 2021 as vendas internas aumentem 5,3% e o consumo aparente de produtos siderúrgicos 5,8%, em comparação com 2020.

Cenário interno pressiona os preços para cima
Uma lei básica do mercado é que uma demanda aquecida para uma oferta limitada acaba encarecendo um produto. O mesmo se verifica com o aço atualmente. O vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos da regional Rio Grande do Sul (Abimaq-RS), Hernane Cauduro, atesta que as empresas filiadas à entidade têm reclamado desta dificuldade. Segundo o dirigente, entre janeiro e outubro o preço do material subiu mais de 60%.

Cauduro não descarta a possibilidade de que alguns pedidos feitos ao setor não sejam atendidos pela escassez do insumo. Outra preocupação é precificar uma máquina que vai ser entregue em um prazo de seis meses, por exemplo, já que o custo do aço está oscilando bastante. Ele informa que a Abimaq recentemente enviou uma carta ao Ministério da Economia chamando a atenção – segundo ele, isto pode gerar inflação e desabastecimento.

Já o presidente da Associação do Aço do Rio Grande do Sul (AARS), José Antonio Fernandes Martins, argumenta que existem dois tipos de empresas consumidoras de aço: as que compram diretamente das usinas, em geral grupos de maior porte, e as pequenas e médias companhias, que adquirem especialmente de distribuidores, por lidarem com volumes menores. “Para as que compram direto das usinas não tem faltado material, empresas grandes como Tramontina, Agrale e Marcopolo, mas para as pequenas, que usam os distribuidores, eventualmente pode ocorrer alguma falta, porém é algo que está diminuindo”, diz Martins.

Sobre elevações do preço do aço, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, afirma que se trata de “um aumento na veia” para o setor automotivo. Ele alerta que é praticamente impossível não repassar esses incrementos para o consumidor final. De acordo com o presidente da Anfavea, cada montadora está tentando negociar diretamente com as siderúrgicas.

Fonte
Jornal do Comércio
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