Demanda

Com escassez de matéria-prima na indústria, consumidores encontram menos opções e preços mais altos

No quarto trimestre de 2020, 73,1% dos industriais citaram falta ou elevado custo de matérias-primas. Um ano antes, eram 20%

Um problema que ganhou força ao longo da pandemia do coronavírus ameaça o desempenho de empresas na largada de 2021. Trata-se da escassez de insumos, que provocou disparada nos preços de parte das matérias-primas, incluindo aço e plásticos.

A situação preocupa a indústria gaúcha e traz reflexos para consumidores no comércio. Menor variedade de alguns produtos e valores mais altos estão entre as consequências apontadas pelo varejo.

A escassez de insumos aparece em um levantamento da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs). No quarto trimestre de 2020, período mais recente com dados disponíveis, 73,1% dos empresários do setor citaram a falta ou o elevado custo de matérias-primas como problema para os negócios. Um ano antes, na reta final de 2019, esse percentual era bem menor, de 20%.

Conforme a Fiergs, mercadorias como vidro, papelão e tecido não tecido (TNT) também ficaram escassas ou mais caras durante a pandemia. No caso do aço, empresários relatam que alguns preços chegaram a dobrar a partir de abril de 2020. Diante da situação, a entidade afirmou, no último dia 5, que o aumento “pode atrasar a retomada da economia”.

O presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry, entende que a situação desafia a indústria na hora de elaborar os preços dos seus produtos. É que, em períodos de crise econômica, fica ainda mais difícil repassar para o consumidor final grandes aumentos em matérias-primas.

— Houve muitas reclamações de empresas a respeito da falta de insumos e dos preços em alta. O aço subiu 100%. Cimento, tijolos e molas para fabricação de colchões também aumentaram bastante. Se você somar tudo isso, há uma grande dificuldade para as indústrias estruturarem os preços dos produtos — comenta Petry.

Por trás da escassez de matérias-primas, há o impacto da pandemia em setores diversos. Inicialmente, a crise da covid-19 reduziu a atividade industrial ao paralisar fábricas pelo mundo. Na sequência, houve a reabertura da economia, que provocou corrida global por insumos. A oferta, contudo, não supriu toda a demanda em muitos casos, pressionando preços. Moral da história: o coronavírus desalinhou cadeias produtivas, e a retomada de níveis mais próximos à normalidade ainda não ocorreu.

Um dos setores impactados dentro da indústria é o eletroeletrônico. No Rio Grande do Sul, 95% das empresas desse segmento continuam com dificuldades no fornecimento de matérias-primas. O dado consta em recente pesquisa da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).

O levantamento também indicou que, nos últimos seis meses, empresas do ramo sentiram aumento de 10% a 40% nos preços de insumos nacionais ou importados. Apesar desse quadro, o setor eletroeletrônico projeta fechar 2021 com alta de 10% a 30% no faturamento no Estado.

O cenário é semelhante na indústria de material plástico. Presidente do Sinplast-RS, que representa o segmento, Gerson Haas menciona que a escassez de matérias-primas permanece no primeiro trimestre de 2021. Conforme o dirigente empresarial, a expectativa é de que a vacinação contra a covid-19 beneficie a operação de empresas e, a partir do segundo semestre, permita “regularidade” no atendimento de fornecedores.

— Realmente, hoje estamos com dificuldade para obtenção de matérias-primas. A oferta não está cobrindo toda a demanda, e os preços estão bastante salgados. Essa situação não é uma exclusividade nossa. Os preços subiram muito no mercado internacional, com o dólar em alta — pontua Haas.

Segundo Petry, a expectativa era de que os valores de insumos baixassem no começo de 2021, o que não foi sentido até o momento. Na visão do presidente da Fiergs, ainda não há um claro sinal de mudança no cenário.

— Esperamos que a situação se normalize o mais rápido possível, mas não sabemos quando isso vai acontecer — diz.

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Gauchazh
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