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Alta de preços de materiais impacta custo da construção de imóveis

O aumento no preço dos materiais de construção está impactando no custo de produção dos imóveis. A alta de produtos básicos como ferro, cimento, tijolos e PVC elevou o preço das obras em até 30%. Construtoras que atuam no segmento de casas populares também sentiram o reflexo.

De acordo com representantes do setor, a alta de custos atinge desde as pequenas reformas, feitas em mais intensidade neste período de pandemia, à construção de imóveis populares e casas construídas com recursos de financiamento.

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), registrou alta de 1,89% em fevereiro. Naquele mês, o custo com a mão de obra ficou estável (0,12%). Já o custo com materiais e equipamentos cresceu 4,38%.

Com a elevação de fevereiro, o INCC/FGV acumulou, nos últimos 12 meses, incremento de 11,07%, o maior para um período 12 meses desde fevereiro de 2009 (11,67%). O INCC – Materiais e Equipamentos, nos últimos 12 meses, teve alta de 25,05%, a maior desde julho de 2003, quando havia sido de 25,34%.

De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), esses aumentos são prejudiciais às atividades da construção civil, pois nenhuma estatística projetava um incremento de preços tão expressivo, o que compromete o orçamento das obras. Além disso, o setor também padece com o desabastecimento, o que prejudica o cronograma das obras.

“Esse grande aumento nos custos de materiais de construção está pressionando as empresas a fazerem ajustes nos preços”, afirmou Victor Almeida, diretor de Negócios da Pacaembu Construtora. Segundo ele, as empresas estão buscando alternativas para manter os imóveis no mesmo valor, mas destaca que há o risco no mercado de suspensão de lançamentos pela falta de viabilidade da obra.

O CEO da RNI, Carlos Bianconi, afirma que estão ocorrendo oscilações nos custos de material de construção em nível nacional, tanto em imóveis que se enquadram no programa Casa Verde Amarela como nos vinculados ao Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).

Os custos mais altos estão setorizados nos itens básicos como concreto, aço e PVC, o que provoca pressões diferentes na margem bruta, de acordo com o tipo de imóvel. “A empresa tem adotado fatores mitigadores para ajudar a acomodar esse custo dentro do custo total da unidade habitacional, como, por exemplo, alterando os sistemas construtivos”, disse.

Para ele, a expectativa é de que haja uma normalização ainda no primeiro semestre e que o mercado imobiliário vai continuar aquecido. “Depois da acomodação de abastecimento dos materiais básicos e equalização de custos, haverá manutenção do crescimento do setor, como aconteceu no ano passado”.

O diretor regional do Sindicato da Habitação (Secovi), Thiago Ribeiro, tem uma estimativa própria, de quem atua no setor, que no caso de imóveis mais populares, de 50 metros quadrados, o aumento oscila entre 15% e 25%. Se antes se gastava R$ 70 mil, hoje o valor está em R$ 100 mil. “O impacto maior é dos insumos e também pela oferta e procura”.

Segundo Thiago, o setor se mantém aquecido mesmo com a pandemia – embora no período de lockdown, naturalmente, tenha passado por uma interrupção. “Os juros estavam atrativos. Precisamos ver como o mercado vai reagir à nova Selic, que pode refletir nos juros habitacionais.” A Selic subiu para 2,75% ao ano na última reunião, de 17 de março.

Para o diretor da Hugo Engenharia, Hilton Fabbri, a pequena alta da Selic deve ajudar a equilibrar a situação da valorização do dólar. “A partir de março os números devem se equilibrar e o INCC entrar num platô.”

Construtores

O engenheiro Tiago Magnoler, que atua com construção de residências, aponta uma alta média de 30%, já que todos os suprimentos básicos, materiais de acabamento e mesmo mão de obra estão mais caros. “O cliente vem saber o valor da obra e se assusta. Quem estava para construir acaba deixando mais pra frente”.

Para ele, os grandes vilões são as ferragens, que tiveram aumento de 80%, e a fiação, que chegou perto de 100%. “Quando se faz uma obra, já existe uma previsão de gasto de 20% a mais. Agora, está na casa de 50% do previsto inicialmente”.

O construtor Fernando Moreto também registrou aumento de cerca de 30% no custo da construção. Ele afirma que a demanda aquecida por pequenas reformas foi o que motivou inicialmente o custo dos materiais e chegou ao setor, além dos investidores que abandonaram o mercado financeiro e optaram por investir no mercado imobiliário.

Ele exemplifica que um imóvel popular de até 70 metros tinha um custo de produção por metro quadrado de R$ 1,1 mil e hoje não se faz o mesmo tanto por menos de R$ 1.450. “A procura pela construção aumentou, só que o custo também”, disse.

Alta de 1,89% (fevereiro)
Custo com a mão de obra – 0,12%
Custo com materiais e equipamentos – 4,38%
vergalhões e arames de aço ao carbono 21,34%
tubos e conexões de ferro e aço 11,56%
tubos e conexões de PVC 7,39%
tijolo/telha cerâmica 2,57%
condutores elétricos 3,78%
Alta de 25,05% em 12 meses


O material de construção sofreu reajuste de maneira geral, afirma Gabriel Roberto da Silva, proprietário da Planalto Material de Construção. Ele conta que de março do ano passado até agora alguns produtos subiram mais de 100%, o que está encarecendo tanto as obras de reformas quanto as construções. “Teve uma inflação alta nos materiais de construção. O que se gastava R$ 1 mil por metro quadrado para construir um imóvel, agora se gasta cerca de R$ 2 mil por metro quadrado”, disse.

Silva ressaltou que alguns itens foram poupados, mas os principais materiais utilizados ficaram mais caros: ferro, areia, cimento e blocos de tijolo de barro e pó de mico.

Ele citou exemplos como o milheiro de tijolo, que era vendido a R$ 600 no início de março do ano passado e que hoje sai por R$ 920. O tijolo pó de mico custava R$ 260 e passou a R$ 400. A barra de tubo de PVC de quatro polegadas era vendida por R$ 59 e agora, por R$ 120. “Está sendo difícil passar orçamentos. Cada dia o preço está diferente um do outro”.

Mas não foram só os preços que aumentaram, o prazo de entrega também ficou maior. Essa demora afeta o planejamento dos construtores. Na empresa Rioprefer, materiais de hidráulica levam até 40 para serem entregues, já as louças para o acabamento cerca de 90 dias, afirmou Mariana Cavalari, proprietária do local. “A industria está sentindo a falta da matéria-prima e estamos com problema de entregas novamente. Essa lei da oferta e da procura, junto com a especulação, está deixando tudo mais caro”, disse.

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Diário da Região
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