O setor da construção civil brasileira encerra o ano de 2025 enfrentando um cenário de dualidade, marcado pela retração na confiança empresarial em meio a uma pressão persistente nos custos operacionais, especialmente no que tange à mão de obra. Segundo dados do FGV IBRE, o Índice de Confiança da Construção (ICST) registrou queda de 1,2 ponto em dezembro, atingindo os 91,4 pontos, o patamar mais baixo desde maio de 2021. Este movimento revela que, apesar dos estímulos provenientes de investimentos em infraestrutura e do volume de contratações pelo programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), o ambiente de negócios permanece severamente impactado por dificuldades estruturais.
A deterioração da confiança é corroborada pela análise do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que apresentou alta de 0,21% em dezembro, acumulando uma elevação de 6,10% nos últimos 12 meses. Embora o índice geral mostre uma leve desaceleração em comparação ao ritmo de 2024 e uma estabilidade nos preços de materiais e equipamentos, que passaram de uma alta de 0,36% em novembro para 0,11% em dezembro , o componente de mão de obra seguiu a trajetória oposta. A variação dos custos com trabalhadores acelerou para 0,32% no último mês do ano, evidenciando o gargalo de pessoal apontado pelos empresários do setor.
Neste contexto, observa-se um fenômeno de pressão sobre as margens e sobre a capacidade de execução das empresas. Por um lado, o Nível de Utilização da Capacidade (NUCI) da construção avançou para 78,5%, o que demonstra que o setor mantém um ritmo de atividade elevado. Por outro, o Índice de Expectativas e o Índice de Situação Atual recuaram simultaneamente, sugerindo que a alta demanda não tem se traduzido em otimismo. A dificuldade em encontrar trabalhadores qualificados, somada à reversão na tendência de custos de serviços e projetos, cria um cenário de cautela para o planejamento de 2026.
Em termos geográficos, o comportamento dos custos mostrou-se heterogêneo, com cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Salvador registrando aceleração no INCC, enquanto São Paulo e Brasília observaram desaceleração. De maneira geral, a conjuntura atual da construção civil brasileira indica que a continuidade do crescimento setorial no próximo ano dependerá diretamente da estabilização dos custos de contratação e da superação dos desafios operacionais que, no momento, sobrepõem-se ao sólido volume de demanda por habitação e obras de infraestrutura no país.
Adaptada GlobalKem | 26 de dezembro 2025
