Efeito Trump redefine fluxos do comércio brasileiro e pressiona superávit em setembro
O comércio mundial mostrou aumento no primeiro semestre de 2025, com avanço de 4,9% no volume transacionado, impulsionado por exportações antecipadas para os Estados Unidos devido as tarifas, condições macroeconômicas favoráveis e o crescimento de fluxos ligados à Inteligência Artificial, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC). A melhora levou o órgão a revisar a projeção de expansão do comércio global de 0,9% para 2,4% neste ano, uma alta de 1,5 ponto percentual em relação à estimativa feita após o “tarifaço” anunciado por Donald Trump.
A resiliência da economia norte-americana surpreendeu analistas, contrariando expectativas de forte pressão inflacionária e desaceleração do crescimento. Especialistas atribuem o resultado a negociações entre exportadores e importadores que absorveram parte dos custos tarifários, reduzindo margens de lucro. Contudo, a OMC alerta que o efeito é temporário e que o repasse integral das tarifas aos preços finais é inevitável se o impasse comercial persistir.
No Brasil, os números de setembro refletem tanto as oportunidades quanto os desafios desse novo cenário. As exportações cresceram 7,2% em valor e 9,6% em volume quando comparado a setembro de 2024, enquanto as importações subiram 17,7% em valor e 16,2% em volume. No acumulado de janeiro a setembro, as vendas externas aumentaram 3,5% em volume, ante 9,4% de crescimento das importações. Como resultado, o superávit comercial recuou para US$ 45,5 bilhões, uma queda de US$ 13,2 bilhões frente ao mesmo período do ano passado.
Entre os principais destinos, a Argentina liderou o crescimento das exportações brasileiras em setembro, com alta de 22%, seguida pela China (+15%) e União Europeia (+5,7%). Já as vendas para os Estados Unidos recuaram 19,1% no mês e 0,8% no acumulado do ano. A participação norte-americana nas exportações totais caiu para 8,4%, evidenciando os efeitos diretos das novas barreiras comerciais.
A redução dos embarques para o mercado norte-americano vem sendo parcialmente compensada pelo aumento das vendas para outras regiões. A partir de julho, houve expansão significativa nas exportações para países da Ásia (excluindo a China), América do Sul (sem considerar a Argentina) e México. A Argentina, embora ainda apresente forte crescimento, começou a mostrar sinais de desaceleração em setembro, diante do agravamento de seu quadro econômico.
Os impactos tarifários também se refletiram na balança comercial por parceiro. O déficit com os Estados Unidos aumentou de US$ 1,3 bilhão para US$ 5,1 bilhões, enquanto o superávit com a China caiu de US$ 30,1 bilhões para US$ 22,0 bilhões. Houve ainda deterioração na relação com a União Europeia, de superávit de US$ 91 milhões para déficit de US$ 1,5 bilhão, e melhora expressiva nas trocas com a Argentina, que passaram de um déficit de US$ 50 milhões para superávit de US$ 4,7 bilhões.
Entre os principais produtos exportados, o destaque foi a recuperação dos semimanufaturados de ferro e aço, que passaram de queda de 6,6% em agosto para aumento de 34,5% em setembro.
O mercado avalia que o “efeito Trump” está provocando uma reconfiguração da pauta exportadora brasileira e uma diversificação de mercados. A fase atual é de transição, e o futuro dependerá das negociações em curso entre Brasil e Estados Unidos.
Adaptado GlobalKem | 16 de outubro de 2025